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Relação entre fé e razão, desafio atual

Queridos irmãos e irmãs!

O calendário litúrgico recorda hoje São Tomás de Aquino, grande doutor da Igreja. Com o seu carisma de filósofo e de teólogo, ele oferece um válido modelo de harmonia entre razão e fé, dimensões do espírito humano, que se realizam plenamente no encontro e no diálogo recíproco. Segundo o pensamento de São Tomás, a razão humana, por assim dizer, "respira": isto é, move-se num horizonte amplo, aberto, no qual pode expressar o melhor de si. Ao contrário, quando o homem se limita só a pensar em objectos materiais e experimentáveis e se fecha às grandes interrogações sobre a vida, sobre si mesmo e sobre Deus, empobrece-se. A relação entre fé e razão constitui um desafio sério para a cultura actualmente dominante no mundo ocidental e, precisamente por isso, o amado João Paulo II quis dedicar-lhe uma Encíclica, intitulada Fides et ratio Fé e razão. Também eu retomei este tema recentemente, no discurso na Universidade de Regensburg.

Na realidade, o desenvolvimento moderno das ciências traz numerosos efeitos positivos, como todos vemos; eles devem ser sempre reconhecidos. Mas, ao mesmo tempo, é preciso admitir que a tendência a considerar verdadeiro apenas o que é experimentável constitui um limite à razão humana e produz uma terrível esquizofrenia, já conclamada, que leva à convivência do racionalismo e do materialismo, da hipertecnologia e da instintividade desenfreada. Portanto, é urgente redescobrir de modo novo a racionalidade humana aberta à luz do Logos divino e à sua perfeita revelação que é Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem. Quando é autêntica, a fé cristã não mortifica a liberdade e a razão humana; e então, por que fé e razão devem ter receio uma da outra, se ao encontrar-se e dialogando podem expressar-se do melhor modo? A fé supõe a razão e aperfeiçoa-a, e a razão, iluminada pela fé, encontra a força para se elevar ao conhecimento de Deus e das realidades espirituais. A razão humana nada perde abrindo-se aos conteúdos de fé, aliás, eles exigem a sua adesão livre e consciente.

Com sabedoria clarividente, São Tomás de Aquino conseguiu instaurar um confronto frutuoso com o pensamento árabe e hebraico do seu tempo, a ponto de ser considerado um mestre sempre actual de diálogo com outras culturas e religiões. Ele soube apresentar sempre aquela admirável síntese cristã entre razão e fé que para a civilização ocidental representa um património precioso, no qual inspirar-se também hoje para dialogar eficazmente com as grandes tradições culturais e religiosas do leste e do sul do mundo. Rezemos para que os cristãos, especialmente quantos trabalham no âmbito académico e cultural, saibam expressar a racionabilidade da sua fé e testemunhá-la num diálogo inspirado pelo amor. Peçamos este dom ao Senhor por intercessão de São Tomás de Aquino e sobretudo de Maria, Sede da Sabedoria.

BENTO XVI ANGELUS Domingo, 28 de Janeiro de 2007
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